Qual era o objetivo do grupo?
A idéia era atacar primeiro. Eu lembro do momento em que o
Ciro Gomes começou a avançar nas pesquisas. Despontava como um dos favoritos.
Decidimos, então, fazer um trabalho em cima dele, centrado em seu ponto mais
fraco, que era o candidato a vice da sua chapa, o Paulinho da Força. Eu
trabalhava para a CUT e já tinha feito um imenso dossiê sobre o deputado. Já
tinha levantado documentos que mostravam desvios de dinheiro público, convênios
ilegais assinados entre a Força Sindical e o governo e indícios de que ele
tinha um patrimônio incompatível com sua renda. O dossiê era trabalho de
profissional.
Os dossiês que vocês produziam serviam para quê?
Fotografamos até uma fazenda que o Paulinho comprou no
interior de São Paulo, os documentos de cartório, a história verdadeira da
transação. Foi preparada uma armadilha para “vender” o dossiê ao Paulinho e
registrar o momento da compra, mas ele não caiu. Simultaneamente, ligávamos
para o Ciro para ameaçá-lo, tentar desestabilizá-lo emocionalmente. O pessoal
dizia que ele perderia o controle. Por fim, fizemos as denúncias chegarem à
imprensa. A candidatura Ciro foi sendo minada aos poucos. O mais curioso é que
ele achava que isso era coisa dos tucanos, do pessoal do Serra.
Isso também fazia parte do plano?
Como os documentos que a gente tinha vinham de processos
internos do governo, a relação era mais ou menos óbvia. Também se dizia que o
Ciro tirava votos do Serra. Portanto, a conclusão era lógica: o material vinha
do governo, os tucanos seriam os mais interessados em detonar o Ciro, logo… No
caso da invasão da Lunus, que fulminou a candidatura da Roseana, aconteceu a
mesma coisa.
Vocês se envolveram no caso Lunus?
A Roseana saiu do páreo depois de urna operação sobre a qual
até hoje existe muito mistério. Mas de uma coisa eu posso te dar certeza: o
nosso grupo sabia da operação, sabia dos prováveis resultados, torcia por eles
e interveio diretamente para que aparecessem no caso apenas as impressões
digitais dos tucanos. Havia alguém do nosso grupo dentro da operação. Não sei
quem era a pessoa, mas posso assegurar: soubemos que a candidatura da Roseana
seria destruída com uns três dias de antecedência. Houve muita festa quando
isso aconteceu.
Nunca se falou antes da participação do PT nesse caso…
O grupo sabia que o golpe final iria acontecer, e houve uma
grande comemoração quando aconteceu. Aquela situação da Roseana caiu como uma
luva. Ao mesmo tempo em que o PT se livrava de uma adversária de peso, agia
para rachar a base aliada dos adversários… Até hoje todo mundo acha que os
tucanos planejaram tudo. Mas o PT estava nessa.
Quem traçava essas estratégias?
O grupo era formado por pessoas que têm uma longa militância
política. Todas com experiência nesse submundo sindical, principalmente dos
bancários e metalúrgicos. Não havia um chefe propriamente dito. Quem dava a
palavra final às vezes eram o Berzoini e o Luiz Marinho (atual prefeito de São
Bernardo do Campo). Basicamente, nos reuníamos e discutíamos estratégias com a
premissa de que era preciso sempre atacar antes.
O então candidato Lula sabia alguma coisa sobre a atividade
de vocês?
Lula sabia de tudo e deu autorização para o trabalho. Talvez
desconhecesse os detalhes, mas sabia do funcionamento do grupo. O Bargas
funcionava como elo entre nós e o candidato. Eu ajudei a minar a campanha do
Lula em 1989, com aquela história da Lurian. Eu e o Medeiros (Luiz Antônio de
Medeiros, ex-dirigente da Força Sindical) trabalhávamos para o Collor e
participamos da produção daquele depoimento fajuto da ex-namorada do Lula. O
grupo se preparou para evitar que ações como aquelas pudessem se repetir - e
fomos bem-sucedidos.
De onde vinham os recursos para financiar os dossiês?
Posso te responder, sem sombra de dúvida, que vinham do
movimento sindical, principalmente da CUT. Se precisava de carro, tinha carro.
Se precisava de viagem, tinha viagem. Se precisava deslocar… Não faltavam
recursos para as operações. Quando eu precisava de dinheiro, entrava em contato
com o Carlos Alberto Grana (ex-tesoureiro da CUT), o Bargas ou o Marinho.
Quem mais foi alvo do seu grupo?
O plano era gerar uma polarização entre o Serra e o Lula.
Por isso se trabalhou intensamente para inviabilizar a candidatura do
Garotinho, que também podia atrapalhar. Não sei se o documento do SNI que
ligava o vice de Garotinho à ditadura saiu do nosso grupo, mas posso afirmar
que a estratégia de potencializar a notícia foi executada. O Garotinho deixou
de ser um estorvo. E teve o dossiê contra o próprio Serra. Um funcionário do
Banco do Brasil nos entregou documentos de um empréstimo supostamente irregular
que beneficiaria uma pessoa ligada ao tucano. Tudo isso foi divulgado com muito
estardalhaço, sem que ninguém desconfiasse que o PT estava por trás.
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