Niquiba - acho que é assim - esse é o
nome de um amigo sorridente vendedor ambulante. Negão sorridente, batalhador e
morador da periferia. O conheci como músico envolvido com o samba reggae nos
bons tempos que os tambores honestos do Bloco Quilombo faziam-se ouvir lá do
alto da Caixa D'água nos anos 80'.
Niquiba teve seus tempos de Rasta nos
anos 80 quando cultivou belos dreads, só vistos em cabeça dos negros assumidos
de Salvador. Assim como eu, Niquiba era fã do som do Olodum e Edson Gomes.
Sempre pedia e eu tocava na rádio oferecendo pra ele. Nas minhas noites de
insônia e boêmia encontrei-o por varias vezes nas madrugadas da Coroa do Meio -
próximo ao Farol - com sua cesta de bombons e cigarros. 'Tranpando na noite
para ganhar grana limpa e sem problema' como sempre dizia. Niquiba tinha
orgulho de me dizer que não bebia e principalmente nunca fumou maconha e mesmo
assim era visto como tal. "A galera pensa que eu uso essas porras, mas não
me amarro, não. Cada um que viva sua vida né não, Xocó?" Não sei se foi
nestas letras, mas foi assim que rolou o ultimo papo.
Certa vez passando pela avenida da
praia de Atalaia avistei Niquiba em um ponto de Ônibus e acabei dando uma
carona até o bairro America onde ele morava. Bom papo e sempre com discurso
político racial em alto astral, atravessamos a cidade ouvindo um bom reggae e
gargalhadas. Pra ele, a barreira racial imposta pela sociedade era visível. Pra
ele, Edson Gomes tinha razão em todas as musicas. "É a verdadeira historia
da vida do negro neste país, Xocó. Eu sei que é por causa do meu jeito Rasta e
meu cabelo massa. Só que não devo nada a ninguém e to na minha", dizia com
a sinceridade e consciência da realidade da sociedade urbana, que durou até
outro dia.
Mataram Niquiba com tiros numa noite
dessas que alguém tem que morrer para alimentar a cadeia da violência. Morreu,
virou estatística e só restam lamentações dos familiares e amigos que perderam
um pai, irmão, filho e pra mim, um negão da pôrra! Os registros estão assim,
cheio de crimes sem solução judicial ou social.
As investigações que apuram a morte de
Niquiba não avançam, Cerca de 40 testemunhas foram ouvidas e até agora ninguém
foi preso.
Por Toni Xocolate
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